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Menino é resgatado após denúncia de maus-tratos em rituais espirituais

O menor teria tido a cabeça raspada e a alimentação reduzida. Ele foi levado ao local pela mãe e acreditava que ia virar médium

SEGURANÇA
ARQUIVO PESSOAL
A mãe de um adolescente de 12 anos é investigada pela Polícia Civil do Distrito Federal e de Goiás por suspeita de maus-tratos e ameaça. O Conselho Tutelar de Ceilândia revelou ter resgatado o garoto, em outubro do ano passado, após ele ficar cerca de 15 dias preso em um quarto na sede de um centro espírita em Águas Lindas de Goiás (GO), a 50 km de Brasília. De acordo com a acusação, o menino teve a cabeça raspada e a alimentação reduzida no decorrer do tempo que passou no local.

A denúncia foi feita pelo pai e pela madrasta do adolescente. O casal buscou ajuda do Conselho Tutelar depois de descobrir que o garoto não estava indo à escola e nem atendendo às ligações do casal. Segundo o homem, a mãe informava que o filho estava bem, “descansando na roça”. Disse ainda que a ex-companheira o impedia de visitar o menino. O caso só veio à tona agora, após a divulgação de episódio semelhante, em uma seita no Gama.

O pai chegou a conversar na época do sumiço com seu outro filho, mais velho. O jovem de 21 anos contou que o irmão passaria um período no centro para se purificar e virar médium. O garoto teria dito a ele que precisaria raspar a cabeça, fazer cortes nos braços e até mesmo ter relação com outro homem.

O Conselho Tutelar descobriu o endereço do suposto centro espírita e, em conjunto com a Polícia Militar de Goiás, encontrou o adolescente em um quarto. Ele estava com as roupas sujas e a cabeça baixa. A mãe estava no local e tentou impedir a ação policial.

O pai e a madrasta foram até a delegacia e registraram uma denúncia relatando que a mãe do garoto os ameaçou de morte e que ela cometeu maus-tratos contra o filho. A PCDF informou que o caso de ameaça será apurado pela 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro).

Já a acusação de maus-tratos, como ocorreu em Águas Lindas, será investigada pela corporação de Goiás. Na ocorrência, o casal delata ainda que a mãe da criança estaria submetendo o próprio filho a rituais espirituais. Mesmo com as denúncias, a mulher conseguiu manter a guarda do adolescente, que, atualmente, está sob os cuidados do pai.

Banho frio
Na casa paterna, o adolescente contou como era a rotina no centro espírita. A conversa foi gravada pelo casal (ouça abaixo). “Tinha que tomar dois banhos gelados durante a madrugada. Até fiquei gripado”, disse. “Eu ficava dentro de um quarto escuro, deitado em uma esteira. Não podia sair para brincar. Eles também me falaram que eu tinha que cortar os meus braços e as minhas pernas com uma navalha.”

De acordo com o garoto, a mãe sabia que ele deveria manter relação sexual com outro homem e, por fim, participar de uma festa onde começaria a fazer parte do grupo. Sobre as refeições feitas no centro, o menino relatou que só podia comer frango, porque era proibido ingerir carne vermelha e “alimentos escuros”.

Criança teve a cabeça raspada 
Polícia investiga 
Caso recorrente
Em 2016, a mãe foi autuada na 15ª DP por maus-tratos. À época, o conselheiro tutelar compareceu à delegacia e relatou ter recebido uma denúncia anônima sobre agressão dela contra o filho. O responsável visitou a casa da família e constatou que o menino estava com lesões aparentes na cabeça.

A autora foi encaminhada à delegacia e autuada em flagrante. Ela assinou termo de compromisso de comparecimento à Justiça e foi liberada. A criança foi encaminhada ao IML para exame.

Outras denúncias
Nessa quarta (9), o Metrópoles revelou o caso de outra jovem mantida presa em uma chácara no Gama por três semanas. Na sala de cerca de 10 metros quadrados, Luana*, de 19 anos, passava as 24 horas do dia tendo como única atividade a leitura de livros bíblicos.

A jovem contou detalhes da rotina na seita comandada a mão de ferro pela pastora Ana Vindoura. “Quando decidi que queria sair dali e viver minha própria vida, não deixaram. Fiquei três semanas trancada”, conta Luana.

Ela diz sofrer de depressão, mas a doença é interpretada por Ana Vindoura e seus seguidores como sinal de que o corpo está possuído pelo demônio. Durante o período de confinamento, Luana só tinha autorização para ir à cozinha e ajudar nas tarefas domésticas. As chaves da casa ficavam sempre em posse de Ana Vindoura. Embora a pastora e os chamados obreiros usem aparelho celular, a maioria dos membros da comunidade não pode ter telefone.

Na chácara, não há televisão ou rádio. A doutrinação imposta por Ana Vindoura também proíbe ingestão de qualquer tipo de carne e produtos industrializados. Quem escolhe viver na propriedade tem de abrir mão até do creme dental, porque “faz o dente apodrecer”, segundo a pastora. A higiene bucal é feita a partir de produtos orgânicos. Itens de banho, como sabonete e xampu, não podem conter qualquer traço de química.

Luana conta ter começado a morar na igreja com a mãe, em 2016. Em julho do ano passado, a mulher teria iniciado um relacionamento e se mudou, deixando a garota na chácara. Luana passou a trabalhar na fabricação de pães – que eram revendidos em padarias da região. “Eu não ligava muito porque gostava daquele trabalho e entendia que eu deveria retribuir de alguma forma, já que morava ali. Na minha cabeça, as coisas ficaram mais sérias quando quis sair para procurar emprego e me prenderam”, relata.

A garota só não ficou mais tempo mantida em cárcere graças a um descuido de Ana Vindoura. “Ela dormiu no sofá e eu consegui pegar o celular dela e mandar mensagens para o meu pai pedindo socorro.”

Ao ler o relato da filha, o aposentado Ronaldo Lucas Soares, 60, entrou em desespero. Morador de uma pequena cidade no interior de Minas Gerais, imediatamente comprou passagem para o DF. Antes, porém, passou em uma delegacia da Polícia Civil de Minas Gerais e registrou boletim de ocorrência. O caso chegou ao Ministério Público mineiro, que, por sua vez, deu ciência à Polícia Civil do DF.

Segundo Ronaldo, Ana Vindoura teria tomado conhecimento da movimentação da polícia e da Justiça e decidiu libertar a jovem a fim de evitar escândalo. “Minha filha parecia um passarinho saindo da gaiola de tanta felicidade. Não fazia ideia que ela estava sem a mãe e passando por essas humilhações. Agora, quero ir até o final para que os responsáveis por esse sofrimento dela sejam punidos”, diz ele, que tenta juntar recursos para pagar um psicólogo para Luana. “Ela não está bem, parece traumatizada.”


Fonte - Metrópoles

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